terça-feira, 23 de setembro de 2008

CARPE DIEM: Em busca da sustentabilidade


Nestes tempos em que o que mais se ouve são expressões como "ecologicamente correto", "reciclável" e "sustentável", volta e meia sou questinado à respeito dos materiais que especifico para a fabricação de minhas peças, como ferro, inox e principalmente, a fibra de vidro. Esta última, então, soa quase como uma heresia aos ouvidos ortodoxos dos que se julgam "ambientalmente corretos" , antenados e sensíveis às causas ambientais. Com isso, talvez muitos se apressem em concluir que o meu trabalho é "anti-ecológico" e que eu não dou a mínima para o meio ambiente. Isso absolutamente não é verdade.

Compartilho em 100% da preocupação com o futuro do planeta e acredito piamente na necessidade de conservação ambiental para torná-lo viável e habitável, mas não compartilho de entendimentos, crenças e práticas que considero equivocadas, e que com certeza a longo prazo, se mostrarão muito mais nocivas ao planeta do que a fibra de vidro ou a resina de poliéster.

Que fique claro: Não sou nenhum anti-conservacionista. Apenas as premissas que orientam o meu trabalho são fundamentadas em uma abordagem diferente sobre esses temas. Alguns exemplos:


RECICLAGEM: OK, já é um começo para reduzir o impacto sobre reservas de recursos naturais finitos. Mas a reciclabilidade está associada intimamente à idéia de DESCARTABILIDADE, que no induz a consumir mais e sem culpa, gerando lixo em volumes e freqüência cada vez maiores. Além disso, o proprio processo de reciclagem implica em gasto de energia que, não raro, troca "seis por meia dúzia". Isso não significa que não seja uma prática válida, ao contrário, acho que as pesquisas neste sentido são absolutamente necessárias, mas que tenhamos sempre em conta que reciclabilidade não significa sustentabilidade. A primeira é um meio, e a segunda o fim.


SUSTENTABILIDADE: O planeta é sustentável, mas o sistema econômico mundial, onde as economias dependem do aumento do consumo (leia-se produção de lixo) para crescer, não é.

Logo, Sustentabilidade é algo digamos, insutentável neste cenário. Você consegue imaginar um planeta viável com 8 ou 9 bilhões de habitantes que tem esse padrão voraz de consumo? É aí que reside o cerne da questão: Sem modificar o sistema econômico mundial, e principalmente os nossos padrões coletivos e individuais de consumo, SUSTENTABILIDADE NÃO EXISTE. Talvez como uma eficiente ferramenta de marketing, mas ninguém vai conseguir mentir tanto por tanto tempo. Talvez consiga, mas só "enquanto durarem os estoques".


OBSOLECÊNCIA PROGRAMADA: O que é isso? A resposta está na pergunta: Qual foi a última vez que você trocou o seu aparelho de celular? E porquê trocou, lembra? .....Lembrou? Lembra que fim deu no antigo? .....Pois é, os produtos são feitos para durar cada vez menos, seja por que a bateria do celular não segura mais carga, seja por que ele ficou feio e riscado por fora, embora ainda estivesse funcionando perfeitamente. Pode ter sido por que um fabricante lançou um novo modelo, com um monte de funções que você nem sabia que não podia viver sem elas.

E é justamente neste contexto que se faz cada vez mais necessária a reprogramação da obsolecência dos produtos, aumentando drasticamente o tempo de utilização de qualquer produto, antes que vire lixo. Daí a minha opção por materiais duráveis, pois um produto como uma peça de mobiliário, sempre estará cumprindo a sua função, não importa por quantas mãos ele passe.


Como todas as peças que desenho, a poltrona CARPE DIEM nasceu sob este conceito. CARPE DIEM, em latim, significa "colha o dia". Podemos aproveitar hoje como se não houvesse amanhã, mas também podemos aproveitar para fazer hoje algo pelo amanhã. Depende de cada um de nós.


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